POPSTARS – uma história
Um dia um participante me contou que sua família morava numa favela no interior de São Paulo. Sua mãe era a merendeira da escola municipal local. Ele havia sido escolhido entre mais de 15 mil inscritos para formar um grupo pop. Tinhamos um forte vínculo terapêutico pois aquele rapaz ao entender que tinha uma psicóloga para acompanhar o grupo vitorioso naquele período de confinamento, ficou abismado que existisse no mundo uma coisa tão incrivelmente eficaz quanto alguém desconhecido, que estivesse ali pura e simplesmente para escutá-lo. Ele realmente investiu naquele tempo em realizar um processo analítico, mobilizado que ficou pela oferta de escuta num campo tão improvável quanto um confinamento de um reality show.
Ao estrear o programa, quando ele começou a aparecer na telinha como vencedor do programa, a gangue da marginalidade do local onde a sua família sempre morou, começou a ameaçar sua mãe de sequestro, afinal agora seu filho era um artista famoso, o que se supõe, cheio de grana, como a família poderia continuar morando naquele local? Toda família teve que se mudar dali para paradeiro desconhecido, deixando para trás sua história, enchendo o garoto de responsabilidade. Ele, com toda fama recentemente conquistada, mal tinha dinheiro para pagar o próprio apart hotel onde tinha que morar pois dali viajava para o Brasil inteiro, acumulando mais fama e fãs.
Os integrantes desde grupo, de início, não sofreram problemas de identidade por haverem se transformado em artistas de televisão. Gozavam de seus tênis, da transformação da imagem, dos cortes de cabelo, sem pudores.
Mas qual é a longevidade de um projeto aonde os ideias artísticos pessoais que deram inicio àquele movimento não são levados em consideração no produto final?