Desde o ano 2001 atendi uma quantidade significativa de atores, principalmente mulheres. São tratamentos que exigem uma minuciosa escuta dos processos de identificação com o olhar que vem do outro pois é parte do trabalho do ator levar em consideração o feedback que recebe do seu público. No entanto se essa for a referência exclusiva de conhecimento de si, encontraremos um sujeito completamente a mercê das opiniões externas, o que é sabido, resulta em uma situação psíquica precária, completamente dependente do reconhecimento externo.
O ator também é um sujeito peculiar, pois seu talento está justamente posto na sua capacidade de flexibilizar sua própria identidade, para ser útil aos personagens que incorpora. Essa labilidade precisa ser fortalecida para permanecer móvel enquanto não ameaça o EU. A medida justa entre permeabilidade e unidade pode ser trabalhada para que o sujeito que tem como ofício a atuação possa sentir-se estável e sereno, mesmo que seus personagens exijam de si grande dramaticidade.
A diferenciação entre sujeito e personagem é fundamental para a saúde psíquica. Há um belíssimo trabalho a ser feito com atores e atrizes tanto no sentido pessoal quanto em relação à sua performance no reino da criatividade pois o trabalho de discriminação analítica gera espaços que garantem tranquilidade para permitir o uso máximo do potencial criativo.